MEMÓRIAS TERRAS DE MONSALUDE
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Recriação da Rota dos Neveiros - Lousitânea, 2007 - Parte III

Título: Recriação da Rota dos Neveiros - Lousitânea, 2007 Parte III
Categoria: Saber fazer
Data: 2007
Local de registo: 
Santo António da Neve
Concelho: Castanheira de Pera
Data de recolha: Junho 2007

Autor: Lousitânea

O fabrico de gelo, a partir de neve, foi uma atividade a que alguns castanheirenses se dedicaram, pelo menos nos séculos XVIII e XIX.
Destinava-se a fornecer gelo a Lisboa, à Casa Real, apreciadora de gelados e bebidas frias e a alguns cafés.
O gelo ali produzido e armazenado descia a serra em dorsos de burros e bois e em carroças até Constância junto ao rio Tejo, seguindo depois em barcos até ao Terreiro do Paço, onde se situava a Casa das Neves, que mais tarde seria o Café Martinho da Arcada, que o comercializava. A laboração desta fábrica terminaria nos finais do século XIX.
Uns dos abastecedores da Real Fábrica eram os neveiros do Coentral, no concelho de Castanheira de Pera. A partir da neve depositada na denominado Cabeço do Pereiro ou Serra da Neve.
O mais conhecido neveiro dessa época foi Julião Pereira de Castro, neveiro-mor do Reino que explorou o fabrico do gelo com alvará real, sendo proprietário de vários poços de armazenagem de neve, dos quais restam vestígios de três. Viria a construir a capela de Santo António, em 1786, conforme lápide que se encontra na sua fachada.
« Fronteiros a esta capela estão os três poços que nos restam. Eles exibem ainda o tosco das suas construções. Dois deles são octogonais e o terceiro é circular. Mas, no seu interior, são todos bem redondos. Estão cobertos por abóbadas de pedra em forma de sino achatado e todo o conjunto foi edificado com a pedra negra da região. Cada poço tem uma só porta, estreita, virada para nascente, como que para evitar que, quando o sol é mais forte, possa entrar pela estreita porta e derreter a neve ali guardada.
Imaginem a azáfama que por aqui se desenvolvia desde o inverno até ao tempo quente... Afadigava-se o mulherio e os garotelhos a apanhar neve para as cestas.
Utilizando escadas de mão, feitas em tosca madeira, os homens desciam ao fundo destes poços — que então tinham uma profundidade superior a uma dezena de metros — e, à medida que neles iam sendo despejadas as cestas com neve, iam calcando esta com pesados maços de madeira que empunhavam vigorosamente, à maneira dos calceteiros de hoje. Empedernida, isolada entre os paredões alisados pelo estuque, coberta depois com palha e fetos, a neve conservava-se, nesses amplos reservatórios, até ao verão, sem que uma réstia de sol lhe pudesse chegar. A jorna, eram contratadas mulheres e rapazio do Coentral e de outras aldeias vizinhas. Depois, era transportada em carros de bois até Constância e daí partia em barcos pelo Rio Tejo, até Lisboa. Parte desta neve era consumida na Corte e a restante em cafés, cujo mais emblemático ainda hoje existente era, o Martinho da Arcada.

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